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ADOÇÃO

Incontáveis modalidades do fazer artístico surgiram no advento do que se convencionou como pós-modernidade. Dentre tantas, a evidenciação de processos factuais revestidos por vertentes estéticas, sugerem o que seriam documentações poéticas. Outras buscam contornos análogos entre vivências e objetos. Ainda percebo correntes que se valem de aspectos efêmeros de elementos ou de condutas, em contraposição ao resguardo tradicional da obra eterna.

Observo o trabalho ADOÇÃO de Tania Bonin a partir dessas três abordagens. No conjunto que envolve ação performativa e fotografias, a artista adotou uma jaca, levou-a para casa e acompanhou seu processo de decomposição. Provavelmente a partir de sua formação acadêmica como biomédica, propôs algo como um documentário que registra detalhes dia após dia, entre putrefações e fungos que surgiam em pontos determinados do fruto. As imagens captadas em macro nos faz perceber detalhes intangíveis a um olhar limitado ou disperso, peculiar ao sentido raso humano comum. O mesmo sentido fugaz, que num tempo mais adiante elegeria a matéria como estragada, também é confrontado através das capturas de Tania. Contraposições que apontam para rumos de renovação e continuísmo, caracterizado pelas novas vidas surgindo. Aqui, um mundo despercebido é celebrado e, por analogia, aplicável a tudo no mundo.

Nessa proposta percebo Tania Bonin a buscar essências. Sustenta um retorno ao elementar. Exatamente por despir-se de qualquer proposição sociopolítica, sugere saídas para os entraves das demandas sociais atualmente impostas. Um retorno às origens, às coisas universalmente inerentes ao humano ou, indo além, à vida.

Se arte é talvez a mais eficaz maneira de conhecermos a realidade para além das limitações a nós conferidas ao nascermos, oferecendo-se como canal para sabermos do mundo, do outro e de nós mesmos, nessa proposta de Tania cumpre seu papel com excelência.

 

Eduardo Mariz     

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